terça-feira, 15 de setembro de 2009


Com a buzanfa quadrada de tanto ficar sentado e a cabeça esturricada pelos pensamentos em cadeia que borbulhavam na minha mente depois de ler e reler matérias sobre reciclagem, lixo, lei de resíduos sólidos etc, resolvi dar uma pausa e cuidar literalmente do meu próprio lixo. Juntei o orgânico em um saco plástico e o descartável, em outro. Ao abrir a porta de acesso à escada do condomínio - onde um único cesto guarda somente o lixo comum, enquanto o reciclável fica livre leve e solto, ou melhor, jogado no chão em um espaço que separa o oitavo andar do sétimo e do nono – tive uma surpresa: um novo cesto (maior e com o design mais moderno) guardava os detritos reutilizáveis.

Levantei a tampa do cesto e analisei o lixo dos meus quatro vizinhos: caixas de remédios com cápsulas vencidas, pilhas, baterias, embalagens diversas, lâmpadas, papel sujo e limpo, sacolas e outros produtos. Juntei aos produtos alheios o meu próprio consumo: bandejas de frios, caixas de leite, papéis e revistas antigas.

Ao soltar a porta de acesso à escada, o eco gerado pelo estrondo da porta de ferro me fez repensar na quantidade de lixo depositado todos os dias em cada um dos andares do prédio onde moro.

Como a prefeitura controla as diversas toneladas de lixo produzida na capital paulistana? Segundo informação da reportagem da revista Veja (dia 5 de agosto) sobre reciclagem, apenas 1% das 15 000 toneladas de lixo produzidas diariamente na cidade de São Paulo passa pela coleta seletiva da prefeitura.


Isso significa que não adianta nada separarmos papel, plástico, vidro, baterias e lâmpadas? É isso mesmo!! E o que pode ser feito para mudar essa situação? O que fazer para que produtos e materiais recicláveis deixem de ser tratados como lixo? Como podemos solucionar o excesso de todo tipo de lixo em aterros?

Especialistas respondem a essas e outras dúvidas sobre reciclagem em entrevista concedida à Revista Veja.

Investir na coleta e na triagem em larga escala
Presidente do Instituto Brasil Ambiente, o economista Sabetai Calderoni, autor do livro Os Bilhões Perdidos no Lixo, acredita que o método atual de cooperativas de pequena escala não funciona. "Temos de pensar na coleta seletiva como um negócio, permitindo ganhos maiores", diz. A inspiração seriam cidades como Londrina e Curitiba, com 100% de coleta seletiva. "Com uma grande central de reciclagem, conseguiríamos reverter a lógica atual que destina dois terços do lucro para os atravessadores e a indústria, e que deixa apenas um terço do pagamento para os catadores."



Profissionalizar as centrais de triagem
Como não tem salário nem direitos trabalhistas, quem trabalha para as cooperativas costuma abandonar o ganha-pão em momentos de crise ou diante de melhores remunerações, ainda que sejam bicos no comércio informal. "A reciclagem no Brasil precisa parar de ser subsidiada pela pobreza", afirma Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). Um caminho poderia ser o pagamento de salários fixos, como ocorre com os 103 empregados da única central de triagem de Curitiba, a Usina de Valorização de Rejeitos. Esteiras, balanças, prensas e toda a estrutura física são de propriedade do município, como nas cooperativas oficiais de São Paulo, mas a administração é centralizada por uma ONG, o Instituto Pró-Cidadania.



Educação ambiental com foco na periferia
Além de morar em áreas onde os caminhões de coleta seletiva não costumam chegar, a população de baixa renda é a que mais carece de educação ambiental. Para reverter esse quadro e acabar com os pontos viciados de desova de lixo, os chamados morcegões, a prefeitura de Curitiba criou 88 pontos de Câmbio Verde. Neles, 4 quilos de material reciclável podem ser trocados por 1 quilo de alimento – normalmente plantados por pequenos produtores da região metropolitana, que também têm seu trabalho estimulado pelo poder público. Com isso, a coleta seletiva da cidade atinge o total de habitantes: 1,8 milhão.



Incentivar a compostagem de orgânicos
Nada menos que 57% do lixo de São Paulo é formado por restos de comida. Se o chamado rejeito úmido tivesse um destino exclusivo, o volume de material descartado seria reduzido drasticamente. Para Elisabeth Grimberg, do Instituto Pólis, um bom caminho é o estímulo à criação de composteiras em restaurantes, parques e jardins públicos. "O adubo produzido poderia ser utilizado em hortas comunitárias."



O que fazer com o seu lixo?

Restos de comida
O lixo orgânico representa 57% dos rejeitos paulistanos. Quem quiser transformar cascas de frutas e legumes em adubo para plantas pode montar ou comprar uma composteira. Também chamados de minhocários caseiros, esses sistemas têm minhocas vivas que transformam os restos de alimento em compostos orgânicos. Estão à venda nos sites moradadafloresta.org, lixeiraviva.blogspot.com, composteira.com.br e minhocasa.com.



Óleo de cozinha
Jogado no ralo, 1 litro de óleo de cozinha usado contamina até 20 000 litros de água. Para transformá-lo em sabão, coloque-o em garrafas plásticas e leve para os supermercados Pão de Açúcar. Condomínios podem fazer o mesmo com os galões de 50 litros vendidos, por 30 reais, pela ONG Trevo.
Móveis e entulhoResíduos de reformas, móveis velhos e restos de poda de árvores com volume de até 1 metro cúbico, que não são grandes a ponto de justificar o aluguel de uma caçamba, devem ser levados a um dos 37 Ecopontos da cidade. A lista completa está no site limpurb .



Celulares, baterias e carregadores
Com a sanção da lei estadual que institui normas para reciclagem e destinação final do lixo eletrônico em São Paulo, as lojas de celulares passaram a ser obrigadas a receber aparelhos usados. Baterias, por exemplo, contêm metais pesados perigosos que não devem ir para aterros. Só as lojas da Vivo reciclaram, no primeiro semestre de 2009, mais de 74 000 itens. As 376 agências dos bancos Real e Santander na cidade, que recolhem celulares, pilhas e baterias, reciclaram 17,8 toneladas no mesmo período.



Remédios e seringas
Os vidrinhos vazios e bem lavados podem ir para o cesto comum, mas remédios vencidos e seringas usadas devem ser encaminhados para incineração em hospitais e postos de saúde. Para evitar acidentes com os coletores, guarde as seringas em caixas ou embalagens rígidas.
Pilhas e bateriasA coleta de pilhas e baterias começou a ser feita nas lojas da Drogaria São Paulo em 2004. Tudo é reciclado pela empresa Suzaquim, de Suzano. Dois anos depois, surgiu o Programa Papa-Pilhas, dos bancos Real e Santander, que já coletou 56,7 toneladas de pilhas, baterias e celulares.



Lâmpadas usadas
Como contêm mercúrio, um veneno perigoso, em sua composição química, as lâmpadas fluorescentes exigem cuidados especiais ao ser descartadas. Poucas empresas fazem a reciclagem – uma delas é a Apliquim. Tratado, seu vidro pode ser usado em pastilhas e materiais de construção. Caso a lâmpada se quebre, é preciso evitar inalar a substância de seu interior ou tocar nela. Já as lâmpadas incandescentes convencionais podem ir para o fundo dos aterros comuns.



Isopores
Embora ainda tenham baixo valor de mercado e sejam desprezados em algumas cooperativas, os isopores podem ser reutilizados. Inclua-os junto com os plásticos. O tipo EPS (poliestireno expandido), comum em embalagens de eletrônicos, é mais aceito que o XPS (poliestireno extrudado), usado em bandejinhas de alimentos.